O ano era 1954 e a IBM estava registrando a patente de um componente
intitulado “dispositivo de disco” (disk drive). Dois anos depois disso, a
empresa lançou um item para armazenamento de dados. Após esses
acontecimentos, a indústria da informática levou algumas décadas para
chegar ao que conhecemos hoje como disco rígido.
A evolução continuou...
Foi na década de 1990 que os consumidores realmente chegaram a
visualizar e ter acesso aos HDs, os quais foram absolutamente
necessários e revolucionários para a história dos computadores. No
começo os discos rígidos não conseguiam armazenar nem 100 MB, mas o
espaço que traziam era mais do que suficiente para os sistemas
operacionais da época.
Os processadores evoluíram, os sistemas também e claro que os discos
rígidos não ficariam para trás. Aos poucos foram surgindo discos com
capacidade de armazenamento de gigabytes, os quais ganharam mais
tecnologia e podiam armazenar uma quantidade surpreendente de arquivos.
Depois da virada do milênio a informática deu um boom ainda mais forte e
fez com que os HDs de centenas de gigabytes aparecessem.
Até aí você já conhece a história e também deve saber que atualmente
temos HDs com mais de 1 TB (terabyte) de espaço. A expansão absurda da
computação não só fez os discos ganharem implementações, mas também
forçou o desenvolvimento de dispositivos portáteis para armazenamento de
dados: os famosos pendrives (que utilizam memória flash).
Hoje você pode comprar um pendrive de 4 GB e transportar uma
biblioteca com até mil arquivos em MP3. Além disso, quem preferir pode
ter acesso às memórias flash em dispositivos multimídia, cartões de
memória para utilização em máquinas digitais e ultimamente até em SSD
(os discos que possivelmente vão concorrer com os HDs).
Toda essa história é fantástica, mas será que o futuro do
armazenamento está limitado à tecnologia das memórias flash? A
informática não vai evoluir mais nesse sentido?
FeRAM pode substituir a flash futuramente
Esta memória é muito parecida com aquela utilizada nos pendrives,
porém ela tem algumas pequenas diferenças que podem ser cruciais para a
utilização no futuro.
As memórias FeRAM, ou memórias ferroelétricas
de acesso aleatório, possuem uma série de alterações nos materiais que
compõem o setor de armazenamento interno (como a inclusão de cristais
ferroelétricos).
Falando em termos técnicos, pode-se dizer que o que muda
drasticamente na memória FeRAM é o modo como ocorre a gravação dos
dados. Esta memória utiliza energia elétrica para seu funcionamento —
assim como a memória Flash —, mas não da mesma maneira que na tecnologia
concorrente.
A FeRAM basicamente utiliza cargas para gravar os bits, fator que
faz esta memória utilizar capacitores (pequenos componentes eletrônicos)
como auxiliares na hora de efetuar alguma tarefa nos cristais — os
quais são compostos por material ferroelétrico.
Se você não entendeu o que está escrito no parágrafo acima não se
preocupe, pois o funcionamento desta memória não é tão importante quanto
saber o que ela realmente vai proporcionar.
A FeRAM tende a ser
uma memória que utiliza pouca quantidade de energia, mais rapidez para
gravar (escrever) os dados e uma vida útil bem maior do que a memória
Flash.
O ponto negativo que mais afeta esta tecnologia é a baixa capacidade
de armazenamento, motivo pelo qual ela ainda não está sendo
comercializada. Muitas fabricantes estão trabalhando no desenvolvimento
das memórias FeRAM, mas a notícia mais recente veio da Toshiba, que
anunciou ter conseguido criar uma memória de 128 MB (capaz de armazenar
aproximadamente 32 músicas em formato MP3).
Fonte: Divulgação Toshiba
A MRAM é uma possível concorrente
Se você sabe um pouquinho de informática deve estar ciente que a
maioria dos componentes do computador utiliza energia elétrica para o
funcionamento. O disco rígido é um componente que, apesar de necessitar
da energia, ainda utiliza o magnetismo para armazenar os dados. A
memória MRAM terá alguma semelhança com os discos rígidos, porém seu
tamanho físico será muito menor.
Fonte: Divulgação Everspin
A MRAM tende a ser um “híbrido” entre o HD e a memória Flash, pois
ela utilizará magnetismo (tecnologia utilizada nos HDs) aplicado num
chip — assim como a memória Flash. Por utilizar a magnetização, a MRAM
consegue escrever ou ler os dados em questão de nanosegundos, mas por se
tratar de uma técnica de difícil controle, a magnetização afeta com
muita facilidade os dados.
Para entender basicamente o funcionamento da MRAM basta utilizar dois
ímãs como exemplo. Estas memórias possuem material magnético, os quais
sabem se determinado bit vale 1 ou 0 conforme a polarização.
Por exemplo: se você colocar dois ímãs com polos opostos, eles se
atraem. Agora se você inverter um deles, eles serão repelidos. Com os
dados funciona de maneira parecida, mas é possível identifica e gravar
os dados a partir dessa pequena diferença que ocorre na magnetização.
A memória MRAM começou a ser desenvolvida na década de 1990, mas até o
momento o melhor protótipo consegue armazenar meros 32 MB (modelo
apresentado pela Hitachi). A geração atual desta tecnologia já permite
gravar dados em menos de um nanosegundo, assim como acontece com a
FeRAM. Ainda não há dados muito precisos quanto ao consumo de energia da
MRAM, mas ao menos já é possível saber que a tecnologia é estável e
funciona muito bem.
A PCRAM está muito próxima da realidade
Um conceito básico da PCRAM, ou PRAM, já existia há uns 30 anos, mas a
tecnologia demorou um pouco para engrenar nos laboratórios. A memória
de acesso aleatório com mudança de fase (tradução do termo PCRAM)
utiliza muita tecnologia eletrônica, porém ela depende de algo
totalmente inusitado: calor. Isso mesmo, para gravar dados, a memória
PCRAM esquenta o material da qual é feita, permitindo que o chip possa
interpretar posteriormente a área gravada como bits de valor 1 ou 0.
O material principal da PCRAM é uma espécie de vidro, o qual pode ser
modificado entre as formas cristalina e amorfa. Como já citado, o calor
é a técnica que realiza essa mudança na memória e, por ser uma forma
simples para escrita dos dados, permite atingir tempos fantásticos para
obter ciclos de escrita baixíssimos.
Assim como as tecnologias concorrentes, a PCRAM só não foi lançada
ainda por um pequeno problema: não possui um protótipo de alta
capacidade. Em 2008 a Intel e uma associada lançaram uma memória PCRAM
de 16 MB (com tecnologia de 90 nm), enquanto a Samsung obteve
recentemente um progresso maior e mostrou um chip de 512 MB de memória.
Fonte: Divulgação Samsung
Apesar de ser mais rápida, a memória PCRAM talvez não seja liberada
tão cedo, porque além do problema de capacidade, ela tem um sério
problema com a estabilidade. O calor utilizado para gravar os dados
requisita uma quantidade de energia maior e não possibilita um nível
aceitável de qualidade.
Nano-RAM – Uma solução com o carbono
A tecnologia das memórias Nano-RAM é baseada na substância mais
abundante no mundo: o carbono. Aliando nanotubos de carbono com um
eletrodo, esta memória consegue gravar dados apenas utilizando uma
pequena tensão aplicada aos componentes. A memória identifica os bits
conforme a voltagem utilizada.
Em teoria a Nano-RAM deve ser mais rápida do que a memória Flash para
escrever e acessar os dados. Além disso, esta tecnologia não utiliza
tanta energia como sua concorrente, fator que faz dela uma ótima
alternativa para os dispositivos, pois permitem um aumento significativo
no tempo de utilização da bateria.
O ciclo de vida da memória Nano-RAM também é superior ao das memórias
Flash, portanto o usuário pode, em teoria, apagar e escrever dados
infinitas vezes. O único problema que impede esta memória de dominar o
mercado é a capacidade de armazenamento, que até o momento não possui
grandes progressos. Segundo relatos da fabricante da NRAM, a Nantero,
sua memória possivelmente seja útil para utilização em dispositivos que
precisem de velocidade e não grande quantidade para guardar dados.
RRAM
A memória de acesso aleatório resistiva é uma nova tecnologia que vem
ganhando força com o passar do tempo. Diversas empresas estão
trabalhando em soluções para melhorar o funcionamento deste tipo de
memória para armazenamento. Utilizando pouca energia e conseguindo
velocidades surpreendentes, a RRAM tem chances de ser uma possível
concorrente para as memórias Flash, porém até o momento existem outros
problemas que as fabricantes enfrentam.
A tecnologia da memória RRAM é semelhante à das memórias PCRAM, porém
ela traz algumas diferenças. A gravação dos dados aqui é feita através
de uma mudança no material cristalino, o qual tem sua composição
alterada conforme reações eletroquímicas são aplicadas. Em tamanho
grande tudo funciona maravilhosamente bem, porém quando reduzido à
escala nano, fica muito difícil de manter a estabilidade das reações
internas.
Ainda não há notícias concretas sobre um protótipo 100% funcional,
portanto não é possível saber se as memórias RRAMs terão versões com
suporte para grande quantidade de armazenamento. É possível que dentro
de pouco tempo a HP lance alguma novidade com esta tecnologia, pois a
companhia vem investindo em pesquisa para melhorar as memórias RRAMs.
Vale lembrar que a HP lançou em 2008 um protótipo de memória resistiva, o
já comentado Memristor (
confira o artigo que o Baixaki criou a respeito deste componente).
Fonte: Divulgação HP Labs
A revolução total: Racetrack
Investir em tecnologias similares parece não ser o foco da IBM, que
pretende criar uma memória totalmente inovadora. Enquanto todas as
demais fabricantes insistem em melhorar o modelo das memórias RAM
(Random Access Memory, ou memória de acesso aleatório), a IBM pretende
investir numa arquitetura nova, que possibilite a melhor utilização do
espaço para armazenar dados.
A memória Racetrack deve seguir o padrão dos discos rígidos
convencionais utilizando a magnetização para gravação de dados. Todavia,
o método de funcionamento desta tecnologia impressiona muito. Ao
contrário dos HDs que utilizam o disco como forma de armazenamento, a
memória Racetrack deve utilizar nanofios magnéticos, que são movidos
sobre os dispositivos que permitem a leitura e gravação.
Fonte: Divulgação IBM
Segundo o site de desenvolvimento da IBM, a nova tecnologia deve
ganhar espaço em mercado graças à sua alta estabilidade, baixo consumo
de energia, alta velocidade e capacidade imensa para armazenamento.
Sendo assim, esta memória seria perfeita, porém a IBM ainda sofre alguns
sérios problemas com a tecnologia, que por sinal não está nem perto da
fase final.
Só para efeitos de curiosidade, vale salientar que o modo de
funcionamento da Racetrack dependerá muito de alta precisão na
utilização da energia elétrica. Além disso, a memória Racetrack deve
ser um dispositivo de acesso 3D, ainda que até agora os protótipos não
tenham saído do bidimensional. Evidentemente, a pesquisa continua e a
fabricante deve anunciar muito em breve avanços desta tecnologia.
Em qual vale apostar?
As tecnologias são muitas, as fabricantes são competentes e os
avanços têm sido contínuos, mas até agora não é possível dizer
exatamente qual memória deve ser o novo padrão de armazenamento.
Se
considerarmos que a memória Flash ainda está evoluindo e vem fazendo
muito sucesso com os discos SSD, talvez não seja o momento de pensar
numa tecnologia futura — pelo menos nós usuários não precisamos pensar
nisso.
As empresas que desenvolvem tecnologia com certeza devem investir na
área, afinal a melhoria de componentes é muito importante para o avanço
geral da informática. De todas as tecnologias supracitadas, duas ganham
uma atenção extra: a PCRAM e a RaceTrack. A PCRAM tem certo destaque
por já contar com um protótipo de 512 MB, ou seja, ela está no caminho
certo para competir com as memórias atuais.
A RaceTrack ainda está em fase de desenvolvimento e possivelmente vai
ficar no laboratório por algum tempo, todavia esta tecnologia pode ter
grandes chances no futuro, principalmente por revolucionar com uma nova
arquitetura. Obviamente , os consumidores sairão ganhando de qualquer
forma, resta saber apenas o que vai compensar mais, pois até o momento
todas as opções em desenvolvimento custam muito caro.